Ortografias
Exemplos de dúvidas frequentes em termos médicos
Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta. Paul Valéry (1871-1945)
A Textofiel é uma empresa dedicada exclusivamente à produção, redação, edição e revisão de textos na área da saúde. Os textos abaixo são exemplos de dúvidas ortográficas frequentes e ilustram nosso método de trabalho.
Abdome/abdômen
A grafia adotada pela Editora Textofiel é abdome, seguindo a dica do poeta mencionada na epígrafe. Abdome vem do latim abdere, 'ocultar', indicando "cavidade de seres vertebrados em geral", e a partir daí "ventre", "barriga". A forma abdome tornou-se a mais corrente e mais indicada em dicionários justamente pela maior facilidade de flexão em relação a abdômens, que no entanto é forma correta também. O elemento de composição abdomin(o)- junta-se sempre sem hífen com o elemento que o segue: abdominoanterior, abdominoscrotal, abdominovesical. A exceção fica por conta do "h", que pede o hífen em abdomino-histerectomia, por exemplo. Também são ortograficamente possíveis e corretas as formas abdominoisterectomia, na qual cai o "h" intermediário, e abdoministerectomia, em que caem tanto o "h" intermediário quanto o "o" do radical. O plural é abdomes (embora sejam perfeitamente possíveis as formais mais cultas abdômenes e abdomens). Nunca é demais lembrar que paroxítonas terminadas em "n" recebem acento, mas as terminadas em "ens", não. Assim, nestes casos a palavra tem acento no singular, mas não no plural, como em hífen e hifens, pólen e polens. No presente caso, abdômen e abdomens.
Abscesso/abcesso
A forma adotada pela editora é abscesso, e nunca abcesso, que no entanto é forma igualmente presente no idioma. Abscesso é formado pelo prefixo latino abs[ab]-, 'longe' + cedere, 'ir', 'afastar-se'. Daí a correlação com termos como abscedência, "afastamento", ou abscedente, "que se afasta", "que degenera em abscesso". Observe-se que a forma correta do verbo é absceder, e não abscedar, forma não infrequente na linguagem médica. Abscesso distingue-se de "empiema", que indica um acúmulo de pus em uma cavidade natural do organismo, enquanto abscesso designa material purulento em uma cavidade neoformada. O prefixo ab- pede hífen antes de "r" que inicie sílaba, como em "ab-reação", "ab-rogar". Nos demais casos, não, como em "abmortal", "absímile".
Acalásia/acalasia
A grafia utilizada em nossos materiais é a proparoxítona acalásia, acompanhando a prevalência dessa pronúncia, embora em textos escritos geralmente predomine a forma paroxítona acalasia, com o "i" tônico. Esse descompasso entre as duas formas, uma corrente na pronúncia, a outra frequente na ortografia, origina-se no fato de a regra culta sinalizar que palavras originadas do grego (como neste caso, khálasis, 'relaxamento') + o sufixo "ia" devem ser paroxítonas. Assim, este caso ilustra a tendência de o idioma tentar preservar a forma culta na ortografia, ao mesmo tempo em que convive sem traumas com a pronúncia popularizada. Como o observado na prática, entretanto, é um amplo domínio de acalásia, esta torna-se preferível também na forma escrita, tendo em vista que a grafia correspondente a essa pronúncia igualmente encontra respaldo nos bons dicionários e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, apesar da norma culta insistir em acalasia.
Alodinia/alodínia, alodínea
Palavra formada a partir dos vocábulos gregos állos, 'outro', 'diverso' + odyne, 'dor', que indica "sensação de dor em estímulos normalmente não dolorosos", alodinia é paroxítona, portanto com o segundo "i" tônico (alodinía), não se justificando a pronúncia proparoxítona (alodínia), que no entanto é comum. Igualmente não se justifica a forma alodínea, também encontrada com certa frequência em textos médicos, uma vez que tal forma não é registrada em nenhum dicionário do idioma.
Alopecia/alopécia
A forma recomendada pela editora é alopecia, paroxítona, com "i" tônico, indicativa de "perda ou ausência de pelos ou cabelos", "calvície". Deriva do termo grego alópex, 'raposa', animal caracterizado exatamente por perda intensa de pelos. A forma alopécia, embora de pronúncia frequente, não é registrada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), atualizado em 2012 com o novo acordo ortográfico. Também não é recomendada pelos dicionários bem conceituados mais recentes, embora esteja registrada em léxicos tradicionais. No DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - a recomendação também é alopecia.
Autópsia/autopsia
A forma adotada pela editora é autópsia, seguramente a grafia e pronúncia mais popularizadas, lembrando que a forma autopsia (com "i" tônico) é igualmente correta. Autópsia origina-se do termo grego autopsia, 'ver com os próprios olhos', formado a partir de auto-, 'próprio', 'por si mesmo', + opsis, 'ação de ver', daí "ver com os próprios olhos", evoluindo para o significado de "exame minucioso" e daí para o sentido de "exame de causa mortis". Alguns autores defendem que em medicina legal o termo mais apropriado para referir-se ao exame cadavérico é necropsia (paroxítona, com "i" tônico). A Editora Textofiel mantém os originais do autor, não importando se o texto grafa autópsia ou necropsia, evitando, porém, as formas autopsia e necrópsia, embora corretas e aceitas pelo VOLP.
Bacteriemia/bacteremia
A forma adotada pela editora é bacteriemia, acompanhando o registro no VOLP. Entretanto, o sinônimo bacteremia também é forma frequente nos textos médicos, tendo amparo em referências igualmente importantes, como os dicionários Houaiss e Aurélio e também no DeCS, o que seguramente faz com que as duas grafias sejam válidas. O vocábulo é formado a partir do elemento de composição bacteri(o)-, que provém do grego bakterion, 'bengala´, 'bastão', 'bastonete', que evoluiu para o latim científico bacterium, termo surgido no século 19, nomeado dessa forma em referência ao formato do micro-organismo. O radical bacteri(o)-, portanto, está presente em toda a formação etimológica do termo, daí a preferência por bacteriemia.
Biótipo/biotipo
A editora recomenda a proparoxítona biótipo, seguindo os dicionários médicos, ainda que na linguagem corrente a forma mais comum seja biotipo e ambas as formas estejam registradas nas obras de referência. Entretanto, a forma paroxítona biotipo também poderá ser empregada, diante de eventual menção para tanto no texto original, pois trata-se de um caso típico em que a norma e o uso coexistem harmonicamente, sem prevalência da primeira.
Broncoespasmo/broncospasmo
A editora adota a grafia broncoespasmo, seguindo o uso majoritariamente corrente dessa forma, ainda que o registro no VOLP seja broncospasmo. O radical bronc(o)-, do latim bronchus, 'garganta', 'traqueia', 'brônquios', liga-se sempre sem hífen ao elemento seguinte: broncoadenite, broncoespirometria, broncorragia. Broncoespasmo origina-se de bronc(o)- + o grego spasmos, 'convulsão', embasando daí a grafia oficial broncospasmo, forma consignada no VOLP e também em dicionários como o Hoauiss. Entretanto, broncoespasmo é forma frequente em dicionários especializados, como o Dicionário Técnico de Termos Médicos, de Luís Rey, que justifica a grafia como sinônimo de espasmo brônquico. Assim, com base nos registros em obras técnicas de referência e no uso corrente, a Textofiel emprega broncoespasmo, salvo recomendação expressa do autor do original em favor de "broncospasmo".
Cãibra/câimbra
A editora adota cãibra, seguindo a forma recomendada como preferencial nos principais dicionários e também no VOLP, ainda que câimbra seja igualmente correta e amplamente registrada no léxico. Cãibra vem do germânico kramp, 'gancho', e o til sinaliza a pronúncia anasalada do termo, sendo cãibra, portanto, o termo fonética e graficamente mais apropriado, além de ser a grafia mais simples.
Diabetes/diabete
A editora usa o diabetes, masculino e plural, embora a forma a diabete(s) seja também registrada em dicionários importantes. O VOLP consigna as duas formas e o Dicionário Houaiss também. Entretanto, o termo no masculino e plural tem prevalecido em textos médicos, talvez por influência da grafia inglesa diabetes, tanto que a sociedade de especialistas se denomina Sociedade Brasileira de Diabetes, em cujo site prevalece a forma masculina e plural. A Editora Textofiel adota também as formas latinas mellitus (e não melito) e insipidus (e não insípido), sempre em itálico.
Infarto/enfarte
A editora emprega infarto, seguindo a preferência dos principais dicionários, médicos ou não. Embora seja possível argumentar-se a favor de alguma diferença histórico-semântica entre os termos enfarte e infarto, atualmente os dois são considerados sinônimos, com o termo enfarte (ou infarte) aparecendo apenas como variação de infarto ou preferido na imprensa leiga.
______________________________________________________________________